"o mundo contado em versos"através de varios movimentos e expressões que podem ser apontadas como características formadoras de nossa identidade cultural,foi buscado na formação desse blog a publicação desse tipo de material abrindo espaço para os interessados no assunto e aqueles que tem seus próprios trabalhos e desejam mostrar sua arte ao publico
Literatura de Cordel é, como qualquer outra forma artística, uma manifestação cultural. Por meio da escrita são transmitidas as cantigas, os poemas e as histórias do povo — pelo próprio povo.
O nome de Cordel teve origem em Portugal, onde os livretos, antigamente, eram expostos em barbantes, como roupas no varal.
Origens da literatura de cordel
As primeiras manifestações da literatura popular no ocidente ocorreram por volta do século XII. Peregrinos encontravam-se no sul da França, em direção à Palestina; no norte da Itália, para chegar à Roma; e ainda na Galícia, no santuário de Santiago.
Nesses encontros eram transmitidas as histórias e compostos os primeiros versos, de forma muito primitiva.
O que interessa para nós é que foi dessa forma que surgiram os primeiros núcleos de cultura regional que espalharam-se pela Europa e, posteriormente, pela América.
A literatura de cordel no Brasil
Devido ao atraso da chegada da imprensa por aqui e seu acesso pelo público, as produções literárias de populares tiveram seu apogeu apenas no século XX.
Nossa literatura de cordel é caracterizada, principalmente, pela poesia popular. A prosa aparece muito mais na forma oral, que passa de geração para geração.
Como é uma manifestação muito mais cultural do que intelectual, destaca-se em regiões onde a cultura é mais valorizada e delineada. Aqui no Brasil essas regiões são a Nordeste e a Sul.
Grandes autores da poesia popular brasileira
Centenas, talvez milhares de autores poderiam ser listados aqui, mas vou falar dos três mais conhecidos.
Leandro Gomes de Barros
Foi o mais importante e mais famoso autor da literatura de cordel brasileira. Seu livreto “O Cachorro dos mortos” vendeu mais de um milhão de exemplares.
João Martins de Athayde
Autor popular que mais produziu. Comprou os direitos autorais de Leandro Gomes de Barros quando da sua morte, passando a editar também seus poemas.
Cuíca de Santo Amaro
O mais terrível poeta popular. Fazia denúncias contra corruptos e poderosos de sua época. Era amigo íntimo de Jorge Amado, que o incluiu como personagem em seus Tereza Batista, Cansada de Guerra e no conto A morte de Quincas Berro D’água.
A chegada de Lampião no Inferno - José Pacheco da Rocha
A Peleja de Cego Aderaldo e Zé Pretinho - Firmino Teixeira do Amaral
A vida do Padre Cícero - Manoel Monteiro
As receitas do Dr. Prodocopéia" - Jotabarros
Côco Verde e Melancia - José Camelo
Iracema - Alfredo Pessoa de Lima
Os Cabras de Lampião - Manoel D'Almeida Filho
Pavão Misterioso - José Camelo de Melo
Romeu e Julieta - João Martins Athayde
O Soldado Jogador - Leandro Gomes de Barros
Senhor dos Anéis - Gonçalo Ferreira da Silva
Viagem a São Saruê - Manoel Camilo dos Santos
ALGUMAS PUBLICAÇÕES:
O brasileiro tem o sangue africano
Através desses meus pequenos versos
Que começo essa grande história
A qual se não me falha a memoria
Foi criada, sem ordens nem progressos.
E os temas aqui por mim expressos
Não se sujeitam ao erro ou engano
Mas não falo desse solo americano
Porem falo de outro continente
Ressaltando orgulhosamente
Que o brasileiro tem o sangue africano
E é sobre a história africana
Que daremos toda a nossa atenção
Um tema de tanta repercussão
Que não da pra se ver numa semana
La que a, ciência quase profana.
Diz que surgiu certamente o ser humano
Não questiono, pra não entrar pelo cano.
Pôs só Deus sabe, de onde surgiu a gente.
Mas ressalto orgulhosamente
Que o brasileiro tem o sangue africano
África dos belíssimos leões
Dos quatis e também dos elefantes
Foi também África dos traficantes
Homens maus e suas expedições
Que levavam dentro de seus porões
Muita gente até por baixo do pano
Pra lugares como o solo americano
Aportando num pais novo e crescente
E graças a esse fato simplesmente
O brasileiro tem o sangue africano
E assim o negro veio ao Brasil
Trazendo sua cor e sua crença
E claro que com a sua presença
Surgirão movimentos mais de 1000
E assim o escravo que surgiu
Pra servir de um jeito inumano
Sofrera preconceito e desengano
Ante uma maldade, sem precedente.
Por isso, ressalto orgulhosamente.
Que o brasileiro tem o sangue africano
Vale lembrar que em nosso pais
O escravo foi de enorme valia
Em seus ombros cresceu a economia
E mesmo assim vivia muito infeliz
Almejando o que ele sempre quis
Libertar-se desse mal cotidiano
Desse povo que se acha soberano
E que é simplesmente diferente
Por isso, ressalto orgulhosamente.
Que o brasileiro tem o sangue africano
Porem mesmo a margem da sociedade
O negro garantiu a sua crença
Essa era maior do que se pensa
Pôs se tinha escravo em toda cidade
Havia negro pra toda atividade
Desde o da roça até escravo urbano
Do nordeste ao chapadão alagoano
O escravo estava sempre à frente
Por isso, ressalto orgulhosamente.
Que o brasileiro tem o sangue africano
Ele foi vitima de preconceito
No sentido, de ser um objeto.
Não detinha direito, nem afeto.
Não era dono, de nada de seu feito.
Também não era nem um pouco aceito
O seu culto, considerado profano.
Seu viver sempre tido por mundano
Julgado tanto, e erradamente.
Por isso, ressalto orgulhosamente.
Que o brasileiro tem o sangue africano
Ele não resistiu passivamente
Essa frase é deveras verdadeira
Pra tanto se inventou a capoeira
Uma forma de luta diferente
Os quilombos surgiram mais a frente
Pra fugir do patrão tão leviano
Os negros, dentre eles um veterano.
Zumbi, que confiavam cegamente.
Por isso, ressalto orgulhosamente.
Que o brasileiro tem o sangue africano
Deste esforço assim nasceu palmares
Uma saída ao negro fugitivo
E zumbi enquanto esteve vivo
Lutou para, proteger os seus pares.
Outros tentaram o mesmo em mais lugares
Que resistiram aluta ano após ano
Mas palmares do rincão pernambucano
Destacou-se, até seu fim iminente.
Por isso, ressalto orgulhosamente.
Que o brasileiro tem o sangue africano
O tempo passa e o mundo esta mudado
E o Brasil ainda do mesmo jeito
O negro escravo, e sem efeito.
Vive mal, precisa ser ajudado.
Mas porem o abolicionismo esperado
Estende-se num período sobre-humano
Mas 1888 foi o ano
Que a escravidão liquidou-se finalmente
Por isso, ressalto orgulhosamente.
Que o brasileiro tem o sangue africano
Entra a republica e tem fim o império
Cai regime e outro se firmando
Porem a situação não vai mudando
E ocaso do negro é muito serio
O governo adotando outro critério
Muda o negro de escravo a suburbano
E esse novo regime republicano
Menospreza o negro novamente
Por isso, ressalto orgulhosamente.
Que o brasileiro tem o sangue africano
Porem essa história que foi triste
Esse relato de um tempo tão cruel
Modelou o negro e seu papel
De herói construtor desse pais
Que carrega na cor a cicatriz
De séculos de um sofrer inumano
Onde de lutas é um veterano
Mas se ergue de pé valentemente
Por isso, ressalto orgulhosamente.
Que o brasileiro tem o sangue africano
Não importa aposição em que esteja
A cor que possuir, ou sua crença.
Independente, da diferença.
O estado em que está ou sua igreja
Não importa de que time seja
Se é da capital, ou interiorano.
Desde o Cearense ao paulistano
Nossa história iguala toda gente
Por isso, ressalto orgulhosamente.
Que o brasileiro tem o sangue africano
AUTOR: Antônio Wilton da Silva
MODALIDADES DA CANTORIA DE REPENTE:
Seguem algumas modalidades deste rico universo da poesia popular rimada e metrificada. Vale lembrar que são mais de 50 modalidades catalogadas. Seguem alguns exemplos:
Considere: "X" versos livres e "A", "B", "C" e "D" versos que rimam entre si.
Sextilha (7 sílabas. Posição das rimas: XAXAXA)
“Eu aqui tenho vontade
De fazer profundo estudo
Despertar a Charles Chaplim
Gênio do Cinema Mudo
Não dizia uma palavra
E o povo entendia tudo” (Daudeth Bandeira, repentista, cantado os gênios da humanidade)
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Sempre tenha preferência
Por produtos mais duráveis
Sempre que possível evite
Os produtos descartáveis
Valorize e divulgue
As empresas responsáveis. (do livro “Aquecimento Global não dá rima com legal” Ed. Moderna)
----Uma sextilha com diálogos...
- Mas manhê, eu falo sério
Eu prometo, vou cuidar.
- Olha o ovo em que moramos
Não é pra um bicho ficar!
Eu trabalho o dia todo
E não tenho tempo, Oscar. (do livro "O Cachorro do menino" - Ed. Moderna)
Setilha- (7 sílabas. Posição das rimas: XAXABBA)
“Os seus filhos são heróis
Nesse solo abençoado
Onde Leandro fez verso
E nasceu Celso Furtado
Aqui eu fiquei hilário
Com a festa do Rosário
Que é a melhor do estado.” (Severino Feitosa, repentista, cantando as maravilhas da cidade de Pombal)
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"O leitor vira ouvinte
O escritor, menestrel
O ouvido vira voz
Neste eterno carrossel
Pois apresento agora
Com carinho e sem demora
Minhas Rimas de Cordel" (do livro "Minhas Rimas de Cordel"- Ed. Moderna)
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E o que causa a emissão
Desses gases violentos?
As queimadas das florestas
Que só causam sofrimentos
As indústrias e os veículos
Somos mesmo tão ridículos
Poluindo nossos ventos. (do livro “Aquecimento Global não dá rima com legal” Ed. Moderna)
Oitava (7 sílabas. Posição das rimas: XAABXCCB)
Não nos resta a menor dúvida
De que estamos aquecidos
Pelos gases emitidos
De uma forma tão insana
Que aumenta o efeito estufa
E qual é o resultado?
O planeta é abafado
Por ações da mão humana. (do livro “Aquecimento Global não dá rima com legal” Ed. Moderna)
Oitava (7 sílabas. Posição das rimas: AAABBCCB)
Os aterros e lixões
Já não têm mais condições
Pois recebem caminhões
Com caçambas carregadas
Sem somar as toneladas
Repetimos velhos erros
E lotamos os aterros
Esperanças enterradas. (do livro “Aquecimento Global não dá rima com legal” Ed. Moderna)
Desafio em mourão (7 sílabas. A posição das rimas: XAXABBA)
Poeta A:
Vou pegar o cantador
Que sentou-se do meu lado
Poeta B:
Mas você não tem valor
Pra fazer improvisado
Poeta A:
Você não dá pra cantar
É melhor aposentar
E voltar para o roçado.
Décima com mote em sete sílabas (Posição das rimas: ABBAACCDDC)
mote: Vou mostrar para vocês
Como é o mote em sete
Já cantei o bom martelo
Já cantei muitas sextilhas
Já falei de maravilhas
De princesas e castelo
Fabriquei um bom duelo
Publiquei na internet
Minha rima não repete
Porque tenho rapidez Vou mostrar para vocês
Como é o mote em sete
Outro exemplo, mote de uma linha:
Se o planeta é ameaçado
Pelo homem é agredido
Nosso ar é poluído
Respirar é complicado
Até água, o bem sagrado
Vai findar, não vamos ter
O que nós vamos beber
Sem ter água bem potável?
Sem ter lixo reciclável?
O futuro, o que vai ser? (do livro "Vida Rima com Cordel" - Ed. Salesiana)
Décima sem mote
Esse mito bem rimado
Vem lá do sul do país
Desse escravo infeliz
E o patrão muito malvado
Com seu filho lado a lado
Judiava do negrinho
Mesmo sendo um rapazinho
Mais que adulto trabalhava
Por qualquer coisa apanhava
Mas chorava caladinho. (do livro "Mitos Brasileiros em cordel" - Ed. Salesiana)
Martelo
O cordel é também literatura
Que nasceu no Nordeste brasileiro
Bem rimada e falada o tempo inteiro
O retrato perfeito da cultura
Sua capa é feita em xilogravura
Bem talhada num taco de madeira
O folheto dá a forma verdadeira
Às histórias que sempre são impressas
Com cordel o poeta junta as peças
Pra fazer coisa séria e brincadeira. (do livro "Mitos Brasileiros em cordel" - Ed. Salesiana)
Martelo alagoano (10 sílabas, 10 versos. Posição das rimas: ABBAACCDDC.).
A toada eu acho tão bonita
Ritmada e também muito gostosa
De maneira perfeita e caprichosa
Quando canto o meu peito se agita
A minha alma que vibra e só palpita
Por que gosto do jeito soberano (sempre rima em "ano")
Sou poeta perfeito e veterano (sempre rima em "ano")
Que nasci pra fazer o improviso
Tirar verso da mente e do juízo
E lá vão dez de martelo alagoano. (essa última linha, obrigatoriamente terminará em "alagoano", mas o texto pode ser "E tome dez de martelo alagoano").
Galope à beira mar
"Eu acho engraçado um poeta de praça
Que passa dois meses fazendo um quarteto
Com um ano de luta, é que finda um soneto
Depois que termina, ainda sem graça
Com tinta e papel, o esboço ele traça
Contando nos dedos pra metrificar
Que noites de sono ele perde a pensar
A fim de mostrar tão minguado produto
Pois desses, eu faço, dois, três, num minuto
Cantando galope na beira do mar.”.
Posição das rimas: ABBAACCDDC. Nesta modalidade o último verso deve terminar com a frase “Beira do mar” Ou “Beira mar” (autor: Dimas Batista. Interessante notar o pensamento do poeta improvisador, frente ao que escreve).
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